quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Projeto Cidadão - Conhecer e Precaver - Módulo 2: Homofobia


         
                                                                                                                               MÓDULO 2 -   Homofobia       

Numa definição clássica e cientifica é o medo ou aversão a homossexuais. É um termo novo, para indicar o comportamento de uma sociedade conservadora que tenta impor por diversas formas a heterossexualização, como sendo a única orientação sexual “normal” e aceita, seja socialmente, religiosamente, politicamente entre outros aspectos relevantes.
            Na prática, é a única responsável pelas agressões verbais, físicas e até mesmo letais a pessoas que não são vistas como normais. Medo ou aversão nesse caso é resultado de uma insegurança desmedida acerca da sua própria sexualidade.    Considerando o princípio psicológico em que o outro é o reflexo do meu eu, em outras palavras, quem agride o faz a si mesmo. Não suporta no outro o que não suporta em si. Quem bate ou mata um homossexual, na prática estará batendo ou matando o homossexual enrustido, recalcado que traz em seu interior.
            O mais preocupante nessa questão é que a prática homofóbica está se consolidando como fator cultural. Na escola se aprende que cultura não se discute, se conhece e aceita. A maior tragédia da humanidade é se convencer que agredir o seu semelhante por ser diferente é normal e comum.
            Os discursos políticos e religiosos, difundidos sutilmente em todos os meios de comunicação, inclusive nas Redes Sociais com o pretexto de que “isso é democracia”, alimenta todo tipo de violência contra a pessoa homossexual. Essa prática permissiva viola todas as esferas dos direitos humanos e legaliza o crime contra a dignidade da pessoa, no seu direito natural e constitucional.
Uma vez que a heterossexualidade é vista como padrão determinante, os casos em que alguns homossexuais são exageradamente explícitos em se reafirmarem na sociedade, encontramos igualmente heterossexuais que são “afetados”, ou seja, espalhafatosos, tanto quanto a minoria dos homossexuais que são criticados por serem assim.
Na sociedade machista e patriarcal brasileira, o heterossexual do gênero masculino que expõe sua orientação sexual e preferências, é aclamado como o macho alfa, digno de ser premiado pela sua macheza, ainda que esse prêmio seja um elogio ou a impunidade pela violência praticada contra homossexuais. A hipocrisia nesse caso é reinante.
Não tem sido raros os casos de pessoas do mesmo sexo serem espancadas na rua ou em festas por estarem abraçadas, ainda que sejam pais e filhos. Observe que a homofobia tem raízes bem mais profundas que se possa imaginar. O machismo, o recalque (ou enrustimento) não permite que as pessoas sejam elas mesmas, tranquilas e conscientes da sua sexualidade e afetividade.
Os dados estatísticos e de polícia parecem colocar o homossexual do gênero feminino numa situação mais “privilegiada”. Dois amigos que se abraçam, mesmo que não sejam serão tratados como gays. Duas amigas com a mesma atitude serão mais aceitas, porque essas são apenas duas boas amigas, ainda que sejam homossexuais.
Notadamente esse aparente quadro de tolerância não procede quando vemos mulheres serem violentadas para se reafirmarem como os agressores acham que elas deveriam ser. Nos países onde a homossexualidade é crime, as lésbicas são estupradas e em muitos casos, constroem-se muros para empurrá-los em cima de uma fileira de homossexuais.
Situações horrendas patrocinadas pelo Estado religioso islâmico refletem no Mundo inteiro como violações de direitos humanos. Apesar de tudo nem sempre as coisas são assim. No Egito é tradição os homens andarem pelas ruas de braços dados. Em Omã, além desse gesto, os homens se saúdam com quatro beijos no rosto e encostam o nariz de um no outro como forma de saudação respeitosa e acolhedora.
Retomando a questão da cultura religiosa, o deputado federal goiano João Campos (PSDB), líder da bancada evangélica na Câmara dos Deputados tem insistido na cura da homossexualidade. Em resposta a essa tentativa, escrevi uma carta de opinião no Jornal O Popular, intitulada Polêmica.

O projeto de decreto legislativo do deputado federal João Campos (PSDB), que é entendido como tentativa de “cura da homossexualidade”, não fere apenas o princípio constitucional básico da dignidade humana, garantida amplamente no artigo 5º da Carta Magna da nação, como também entra em contradição com a vida abundante requerida pelo Criador, revelada plenamente na afirmação de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. (Jo. 10,10).
Dado o fundamento bíblico da acolhida ao próximo, onde está o motivo para a patologização da homossexualidade, se essa é tão comum e normal quanto à heterossexualidade ou ainda a bissexualidade. De fato, no Antigo Testamento existia a pena de morte para o homossexual (Lv. 20,13), mas em Jesus, selo da nova e eterna aliança, toda lei se resumiu no amor ao próximo.
É inaceitável que no maior país cristão do mundo, ainda se mata seus semelhantes e irmãos de diferentes formas (físicas e psicológicas), fruto de uma insegurança sem precedentes acerca da sua sexualidade. Além de tudo, décadas de conquistas pelo respeito ao homossexual estão ameaçadas.
Nesse planeta que é um cisco cósmico na imensidão do Universo, existe espaço para todos, inclusive para as pessoas que queiram constituir suas famílias da maneira convencional. Em meio a tudo isso, o que mais importa é que “Deus não faz acepção de pessoas”. (Rm. 2,11).[1]
Em meados de 2005 escrevi uma carta ao mesmo jornal com sede em Goiânia-GO, informando o assassinato de um homossexual em Caldas Novas e pedindo providências. Toda situação de homofobia tem que se tornar pública, até que os responsáveis por criarem leis resolvam fazer alguma coisa. A partir daí as denúncias se tornarão formalmente legais.
O que pretende o deputado João Campos nesse caso é liberar médicos e psicólogos a diagnosticarem e a tratarem supostos casos de homossexualidade. A ideia remonta aos campos de concentração nazistas e outras experiências monstruosas realizadas por décadas pelo mundo afora.
No mês de abril de 2012 o mesmo deputado em questão, voltou a polemizar apoiando um projeto de lei que tira dos juízes o direito de decidir sobre questões que o Congresso Nacional por algum motivo abre mão de votar, como por exemplo, a união homoafetiva que coube aos ministros do Supremo Tribunal Federal decidir a favor.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em nome da moralidade cristã e dos bons costumes, passou a ser conhecido nacionalmente como o político mais homofóbico do Brasil. Com uma campanha sem limites, tem promovido indiretamente diversas reações violentas contra a Comunidade Gay. Já foi repreendido na Câmara dos Deputados, por outras afirmações que não se podem mais tolerar.
           De todos os políticos, o Deputado Federal Pastor Marco Feliciano (PSC – SP), que ironicamente no pleito 2013 é Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, tem se revelado como o mais ferrenho praticante da homofobia, em discursos inflamados e carregados de fundamentalismo religioso e absoluta contradição ao que se refere aos direitos da pessoa.
A Senadora Marta Suplicy (PT-SP), apresentou um Projeto de Lei na década de 1994 (que previa a criminalização a homofobia). Depois em 2006, reformulou o mesmo Projeto e antes de levar ao Plenário consultou a bancada evangélica e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Depois dessas consultas quase não se falou mais no assunto.
Foi incluído na pauta a não punição a discursos que ofendesse a Comunidade Homossexual. O temor é que líderes religiosos fossem punidos com a esperada nova lei. Se não existe nada prático e específico que proteja a vida LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis), a saída é buscar alternativas em brechas na lei, principalmente no artigo 5º da Constituição Federal.
Com as constantes “ameaças” de grupos religiosos fundamentalistas e puritanos tentando acabar com o Estado brasileiro laico e soberano, variados grupos de excluídos e marginalizados da sociedade, correm o risco de perder ainda mais o seu espaço, como pessoas comuns, normais e iguais a tantos outros. Os grupos até então dominantes, insistem em requerer para si o direito de serem aceitos como os únicos capazes de viver igualitariamente e dignamente no Mundo.
Se a religião cumprisse o seu papel fundamental que é ligar a criatura ao Criador, o ser humano a Deus, (desde que esse aceite passar por todo um processo sem ser discriminado), não haveria tantos sofrimentos desnecessários.
A partir do momento em que as religiões estabelecerem a doutrina da tolerância com o “diferente”, as relações humanas serão melhores, o Mundo será melhor. O que um líder religioso diz tem muita importância e influências não somente para os adeptos, mas em toda sociedade.
Situação semelhante é quando os legisladores, ao que tudo indica com medo de perder votos dos ditos grupos religiosos preferem ignorarem essa questão. Se a Constituição brasileira é considerada a mais democrática e avançada do Mundo, porque ainda o quadro de violência contra homossexuais continua sendo alarmante.
  



[1]Cf: O Popular, Ano 73 – Nº 21.248 / p.6 / 06 de março de 2012.


 Módulo 3 - Dados Estatísticos



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