terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mód. 6: Homossexualidade



      Homossexualidade


            Por muito tempo, especialistas das mais diversas áreas do comportamento humano, se ocuparam em explicar as prováveis causas da homossexualidade. Considerando que ninguém se preocupou em estudar as causas da heterossexualidade, não existem motivos que justifiquem explicações sobre a homossexualidade.
            No primeiro trecho do Catecismo citado anteriormente a questão é bem prática e objetiva. Não há o que discutir sobre uma orientação sexual tão comum e natural quanto qualquer outra. Pelo fato de não poder constituir uma família convencional, os homossexuais não podem ser tratados como resultado de depravações, atos desordenados e transtornos de ordem psíquica.
            Além da conotação negativa que sobrecarrega o termo homossexualidade, as atitudes excludentes se tornam visíveis e propensas a aumentar a violência contra as pessoas homoafetivas. Dadas as circunstâncias da vulnerabilidade de um grande número de homossexuais, em nada contribui insistir num tratamento desigual.
            O que se deve evitar continuamente é o termo “homossexualismo”. O sufixo “ismo” subtende doença. Além do reconhecimento da OMS (Organização Mundial de Saúde), do Conselho Federal de Medicina e de Psicologia em retirar do rol das patologias a homossexualidade, as evidências mostram sempre mais que não se trata disso. Não existe uma definição exata assim como não existe para a heterossexualidade ou a bissexualidade.
            O que faz da homossexualidade uma “anomalia” é o preconceito de uma sociedade heterossexualizada em que faz questão de reafirmar que seria essa a única orientação sexual normal e correta. Ao lado dessa falsa crença, enfatizamos o fator determinante que é a cultura religiosa fundamentalista e puritana que motivam atitudes sempre ambíguas.
             A sociedade patriarcal não abre mão de excluir o que é diferente e abominável aos olhos de suas interpretações literais, mesmo que isso custe a vida de pessoas inocentes. Quem incita a violência ao próximo, incorre em crime e pecado maior do que possam querer delegar sobre os outros.
            Interessante é quando se descobre que não existe uma única maneira de ser homossexual. Poderíamos falar em homossexualidades. As pessoas pertencentes a essa orientação sexual reagem de formas variadas, desde a maneira de se apresentarem aos grupos sociais às suas intimidades.
            Podemos aprofundar a questão constatando depoimentos de pessoas da maneira como elas se sentem. Essa diversidade torna a homoafetividade mais complexa e prazerosa de se conhecer e estudar as inúmeras características que se apresentam. Não se pode definitivamente generalizar comportamentos. É inaceitável continuar falando daquilo que não se conhece.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Módulo 5 - Dados Históricos


Módulo 5 – Dados Históricos












Antigos Romanos e Egípcios Numa Relação Homoafetiva - Em nenhum caso havia o conceito de pecado, doença ou qualquer tipo de preconceito ou discriminação.

Na história da homocultura, nem sempre as situações referentes aos homossexuais ocuparam o centro das discussões e nem muito menos precisaram fazer parte de estatísticas. O que precisa ficar claro é que pessoas não são dados estatísticos.
Durante a Idade Antiga a sociedade greco-romana convivia harmoniosamente com os grupos de homossexuais. O próprio imperador Alexandre o grande, assumiu publicamente a sua bissexualidade.
Em outro período bem anterior, a homossexualidade era difundida em Israel, porém passou a ser algo passível de ser punido com a morte. (Cf. Levítico. 18,22; 20,13; 20,23 e Juízes 19,22ss). De certa forma comprometia a procriação. Essas citações servem para justificar no Catecismo a não aceitação da prática da homoafetividade em si e não necessariamente do homossexual, enquanto é chamado a viver a sua castidade.
Foi a partir dessas fontes acrescentadas a Romanos 1,24-27 (a homossexualidade como aberração da natureza) e a 1 Coríntios 6,9-10 (o homossexual ou efeminado e sodomita como são chamados, comparados a injustos, impudicos, idólatras, adúlteros, depravados, ladrões, avarentos, bêbados e injuriosos), que a Igreja Católica Romana passou a punir com a morte os homossexuais da baixa idade média até o século 19 através da “Santa” Inquisição.
Desde então os grupos de homossexuais nunca mais puderam viver em paz e nem tiveram mais a sua dignidade garantida. Mesmo com o fim da inquisição (Santo Ofício), diferentes grupos religiososcontinuam a massacrar seus semelhantes em nome de uma fé cega e descomprometida.
Além da pena de morte, existia o degredo. Quando ainda o território brasileiro era uma colônia inexplorada, homossexuais, inclusive travestis eram expulsas para uma terra que só existiam algumas Vilas no litoral brasileiro.
O “crime” de sodomia (em referência a Sodoma, cidade bíblica que abrigava um número considerável de homossexuais), passava pelo processo de prisão, tortura e morte. Espanha e Portugal (países católicos) foram os que mais mataram pessoas no mundo por meio da Inquisição.
O Brasil esteve por um longo período dominado por esses dois países. A inquisição não aconteceu especificamente no território brasileiro, mas se sabe que muitos eram enviados para serem punidos em Portugal.
Em Goiás durante o século 19, os homossexuais eram chamados de mariolas. Havia uma grande concentração desse grupo de pessoas nas duas maiores festas religiosas, em Barro Preto (Trindade) e Moquém.(SILVA, 2006, p.326).
Apesar de tudo, a Igreja por meio do Catecismo reformulado em 1998, insiste em classificar os atos de homossexualidade “intrinsecamente desordenados”, mas traz dois conjuntos de reflexões tolerantes. No primeiro momento conceitua,
“A Homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada”. (Catecismo da Igreja Católica, 1998, p. 610, 2357).

No parágrafo 2358, declara,

“Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se à para com eles todo sinal de discriminação injusta”. (Idem, Pp.610-611).
No dia 29 de julho de 2013 o Papa Francisco, durante Entrevista Coletiva no retorno a Roma, ao ser questionado sobre os gays, com sua simplicidade e sabedoria declarou: “Se uma pessoa é gay, procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade. (...) Devemos ser como irmãos.”

Contextualmente Paulo apóstolo escreveu a Carta aos Coríntios entre os anos 50 e 52. Corinto era uma cidade portuária com mais de 500 mil habitantes, tendo a maioria de seus habitantes, escravos. Era um lugar propício a todos os tipos de religiões e raças, onde havia muita riqueza e desigualdade social.
O apóstolo esteve nesse lugar por um ano e meio e foi o tempo suficiente para identificar todos os tipos de comportamentos. Não restaria alternativa, que não fosse a de criticar duramente comportamentos reprováveis não só do ponto de vista religioso, como também ético e moral. A luxúria estava acima de tudo.
É assim que a Bíblia deve ser lida, contextualizada. Pelo contrário, só restará a livre interpretação da parte que mais convém, fazendo desse Livro Sagrado um objeto de uso pretencioso para recriminar a vida alheia. 




sábado, 3 de agosto de 2013

Módulo 4: Escala de Kinsey e do Dr. Harry Benjamin




Módulo 4: Escala de Kinsey e do Dr. Harry Benjamin







         Escala de Kinsey

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Escala de Kinsey tenta descrever o comportamento sexual de uma pessoa ao longo do tempo e em seus episódios num determinado momento. Ela usa uma escala iniciando em 0, com o significado de um comportamento exclusivamente heterosexual, e terminando em 6, para comportamentos exclusivamente homossexuais. Muito frequentemente a Escala de Kinsey é simplificada de forma exagerada prevendo apenas heterossexuais, bissexuais e homossexuais de acordo com a monossexualidade, onde temos apenas dois sexos: o macho e a fêmea. Em estudos posteriores, Alfred Kinsey, Wardell Pomeroy et al. publicam os livros Sexual Behavior in the Human Male (1948) e Sexual Behavior in the Human Female (1953), introduzindo também os assexuais.

Introdução à Escala de Kinsey

Kinsey escreveu em tradução livre:
Homens não são representados através de duas populações discretas, heterossexual e homossexual. O mundo não é subdividido em carneiros e cabras. É um fundamento da taxonomia que a natureza raramente pode ser tratada em categorias discretas... O mundo em que vivemos é contínuo em todos e em cada um dos aspectos.
Quando enfatiza-se a continuidade das graduações entre os heterossexuais e homossexuais exclusivos ao longo da história, parece ser desejável desenvolver uma gama de classificações que podem ser amparadas em quantidades relativas de experiências e respostas heterossexuais e homossexuais em cada caso... Um indivíduo pode ser associado numa posição da escala em cada período de sua vida... Uma escala de sete categorias aproxima-se de representar as várias graduações que existem atualmente (Kinsey, et al. (1948). pp. 639, 656)

Estudos de Kinsey

Homens: 11,6% dos homens brancos, com idade entre 20 e 35 anos puderam ser classificados no nível 3 da escala num período de suas vidas.1

·         Mulheres: 7% das mulheres solteiras, com idade entre 20 e 35 anos e 4% de mulheres que já se casaram, com idade entre 20 e 35 anos puderam ser classificadas no nível 3 num período se suas vidas.2 Entre 2 a 6% das mulheres, com idade entre 20 e 35 anos, puderam ser classificadas no nível 53 e entre 1 a 3% das mulheres solteiras com idade entre 20 e 35 puderam ser classificadas no nível 6.4

Críticas à Escala de Kinsey

Uma das maiores críticas à escala de Kinsey é que ela não incorpora a transexualidade sendo quase inútil nesses casos. Harry Benjamin propôs, em contrapatrida, a Escala de Orientação Sexual que é muito mais adequada a trangêneros em geral mas que não explica a homossexualidade em si. Existem estudos que cruzam características da Escala de Kinsey com a Escala de Orientação Sexual de Harry Benjamin a fim de obter um diagnóstico mais preciso para indicar tratamentos e/ou cirurgias de resignação de sexo.

 

Referências

1.   Kinsey, et al. 1948. Sexual Behavior in the Human Male, Table 147, p. 651
2.   Kinsey, et al. 1953. Sexual Behavior in the Human Female, Table 142, p. 499
3.   Ibid, p. 488
4.   Ibid, Table 142, p. 499, and p. 474


Indecisão entre Sexo e Gênero em Indivíduos do Gênero Masculino


Dr. Harry Benjamin, 12-01-1885/24-08-1986
Pessoa de personalidade intrigante, o Dr. Harry Benjamin é considerado o grande pioneiro da medicina na identificação, descrição e tratamento dos Transtornos de Identidade de Gênero, sendo hoje um verdadeiro ícone na história da transgeneridade.
Alemão, nascido em 1885, praticou clínica geral e endocrinologia em Nova York e São Francisco. Veio a interessar-se por temas ligados à transexualidade através de outro grande sexólogo, o Dr. Alfred Kinsey (o do famoso relatório). Em 1948, Kinsey pediu ao Dr. Benjamin que examinasse uma criança que insistia em se tornar mulher, apesar de ter nascido homem. Kinsey conheceu a mãe da criança, que lhe pediu ajuda, quando fazia as entrevistas de campo para o seu relatório sobre o comportamento sexual masculino. Este menino rapidamente levou o Dr. Benjamin a identificar que ele apresentava uma condição muito diferente do travestismo, rótulo sob o qual eram genericamente classificados os adultos da época, em situação semelhante à do guri. Naquela época, ele tratou a criança com estrógeno (premarin, já existia a partir de 1941) e verificou uma grande redução da sua ansiedade.
Sua paciente mais famosa foi Christine Jorgensen que, em 1952, tornou-se uma das primeiras (senão a primeira) transexual operada no mundo (seguida mais tarde por Roberta Cowell, na Inglaterra e Coccinelle, na França).
Em 1966, o Dr. Benjamin publicou sua obra de maior importância, O Fenômeno Transexual, até hoje um marco na definição de padrões para o tratamento médico de pessoas portadoras de dirtúrbios de sexo / gênero. Curiosamente, essa sua obra foi dedicada à sua mulher Gretchen, com quem foi casado 60 anos. Afora a sexologia, o Dr. Benjamin foi também um gerontologista, tendo vivido, ele mesmo, 100 anos. Foi também esoterista, discípulo de Gurdjieff, tendo publicado uma obra sobre o quarto caminho, em 1971.
Com sua permissão e apoio, foi formada, em 1979, a The Harry Benjamin International Gender Dysphoria Association (Associação Internacional Harry Benjamin para Disforia de Gênero) que, desde esse ano, publica periodicamente o The Harry Benjamin International Gender Dysphoria Association’s Standards of Care for Gender Identity Disorders, ou seja, os “Padrões de Tratamento para Desordens de Identidade de Gênero”, uma espécie de bíblia para os profissionais médicos, sexólogos e psicoterapeutas atuando na assistência a transexuais e transgêneros. Os “Padrões de Tratamento” encontram-se atualmente na sua 6ª. Versão, que foi publicada em 2001, cuja cópia, em inglês, pode ser lida na sua íntegra clicando aqui ou baixada diretamente clicando neste outro link.
A “Escala” do Dr. Harry Benjamin foi publicada em 1966, inspirada no trabalho do seu amigo Alfred P. Kinsey, com material recolhido principalmente a partir dos seus exaustivos trabalhos de campo junto a transexuais, realizados desde 1952.
O aspecto mais criticado da tabela do Dr. Benjamin é precisamente a “ponte” que ele faz com a famosa Escala Kinsey(*) de orientação sexual humana. Por serem amigos e terem se influenciado mutuamente, o Dr. Benjamin quis incluir as descobertas de Kinsey na sua tabela.
É importante lembrar, para qualquer crítico apressado, do pioneirismo da tabela do Dr. Benjamin, publicada numa época em que o assunto transexualidade era um grande tabu, além de totalmente desconhecido da classe médica e psi.






(*) Escala Kinsey de Orientação Sexual
1 Exclusivamente heterossexual, sem qualquer experiência homossexual
Predominantemente heterossexual, mas incidentalmente homossexual
Predominantemente heterossexual, porém homossexual mais do que incidentalmente
4 Igualmente heterossexual e homossexual (bissexual)
5 Predominantemente homossexual, porém heterossexual mais do que incidentalmente
Predominantemente homossexual, mas incidentalmente heterossexual
Exclusivamente homossexual, sem qualquer experiência heterossexual
Assexual
             Fonte utilizada para a apresentação da tabela: http://www.genderpsychology.org/transsexual/benjamin_gd.html

             Acesso em: 03 de agosto de 2013.



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Proj. Cidadão - Módulo 3: Dados Estatísticos


   
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Módulo 3 - Dados Estatísticos

 Dados Estatísticos

Pesquisa do Ibope divulgada em julho de 2011, revelou um quadro preocupante no Centro-Oeste do Brasil e especificamente em Goiás em relação a homoafetividade. No que se refere a união homoafetiva, a rejeição foi de 60%. Os protestantes/evangélicos estão entre os mais intolerantes com a comunidade homossexual, alcançando um percentual de 77%. É um dado preocupante.
Dos entrevistados em 142 municípios do Brasil, em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, representam a maior proporção em não aceitarem médicos, policiais e professores no serviço público. A faixa etária para os que não aceitam a homossexualidade se situa acima dos 50 anos de idade. A juventude ao que tudo indica é mais tolerante.
A boa notícia é que 60% dos jovens e adolescentes entre 16 e 24 anos aceitam sem reservas a homoafetividade. As pessoas que concentram maior poder de renda se enquadram de forma semelhante aos jovens e adolescentes, ao contrário dos que tem menor renda e estudo.
Na mesma pesquisa ficou constatado que 73% dos brasileiros com a idade entre 16 e 24 anos aceitariam conviver tranquilamente com amigos gays. Esse percentual sobe para 80% no comportamento das mulheres. Em 1993, 44% não se afastariam de seus amigos gays. Em 2008 subiu para 65%.[1]
A pesquisa parece ser animadora, mas segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2010 foram assassinados 260 gays, travestis e lésbicas, correspondendo a um aumento de 113% nos últimos cinco anos. Em números específicos, esse atentado contra a vida corresponde a 140 gays (54%), 110 travestis (42%) e 10 lésbicas (4%)[2].
Como muitos casos não são registrados e os bissexuais geralmente não se declaram publicamente, esse número pode ser bem maior. A bissexualidade é extremamente complexa. Observei casos em que o homem amava e se relacionava com sua esposa e ao que tudo demonstrava, com seu parceiro igualmente. Quando descobertos são vistos como imorais.
    Assim como a homossexualidade, a bissexualidade não é uma escolha pessoal (opção), mas um contínuo pouco estudado e muito menos discutido na sociedade, que passa “despercebida”, encarada apenas como um incidente da adolescência, uma vez que é comum o contato sexual entre pessoas do mesmo sexo, nessa fase da vida.

* Acompanhe no Módulo 4 a Escala de Kinsey e entenda melhor alguns aspectos relevantes.



[1] Disponível em: <www.ibope.com.br/ibopeinteligencia>. Acesso em: 30/04/2012.
[2] Disponível em: <www.ggb.org.br>. Acesso em: 30/04/2012.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Projeto Cidadão - Conhecer e Precaver - Módulo 2: Homofobia


         
                                                                                                                               MÓDULO 2 -   Homofobia       

Numa definição clássica e cientifica é o medo ou aversão a homossexuais. É um termo novo, para indicar o comportamento de uma sociedade conservadora que tenta impor por diversas formas a heterossexualização, como sendo a única orientação sexual “normal” e aceita, seja socialmente, religiosamente, politicamente entre outros aspectos relevantes.
            Na prática, é a única responsável pelas agressões verbais, físicas e até mesmo letais a pessoas que não são vistas como normais. Medo ou aversão nesse caso é resultado de uma insegurança desmedida acerca da sua própria sexualidade.    Considerando o princípio psicológico em que o outro é o reflexo do meu eu, em outras palavras, quem agride o faz a si mesmo. Não suporta no outro o que não suporta em si. Quem bate ou mata um homossexual, na prática estará batendo ou matando o homossexual enrustido, recalcado que traz em seu interior.
            O mais preocupante nessa questão é que a prática homofóbica está se consolidando como fator cultural. Na escola se aprende que cultura não se discute, se conhece e aceita. A maior tragédia da humanidade é se convencer que agredir o seu semelhante por ser diferente é normal e comum.
            Os discursos políticos e religiosos, difundidos sutilmente em todos os meios de comunicação, inclusive nas Redes Sociais com o pretexto de que “isso é democracia”, alimenta todo tipo de violência contra a pessoa homossexual. Essa prática permissiva viola todas as esferas dos direitos humanos e legaliza o crime contra a dignidade da pessoa, no seu direito natural e constitucional.
Uma vez que a heterossexualidade é vista como padrão determinante, os casos em que alguns homossexuais são exageradamente explícitos em se reafirmarem na sociedade, encontramos igualmente heterossexuais que são “afetados”, ou seja, espalhafatosos, tanto quanto a minoria dos homossexuais que são criticados por serem assim.
Na sociedade machista e patriarcal brasileira, o heterossexual do gênero masculino que expõe sua orientação sexual e preferências, é aclamado como o macho alfa, digno de ser premiado pela sua macheza, ainda que esse prêmio seja um elogio ou a impunidade pela violência praticada contra homossexuais. A hipocrisia nesse caso é reinante.
Não tem sido raros os casos de pessoas do mesmo sexo serem espancadas na rua ou em festas por estarem abraçadas, ainda que sejam pais e filhos. Observe que a homofobia tem raízes bem mais profundas que se possa imaginar. O machismo, o recalque (ou enrustimento) não permite que as pessoas sejam elas mesmas, tranquilas e conscientes da sua sexualidade e afetividade.
Os dados estatísticos e de polícia parecem colocar o homossexual do gênero feminino numa situação mais “privilegiada”. Dois amigos que se abraçam, mesmo que não sejam serão tratados como gays. Duas amigas com a mesma atitude serão mais aceitas, porque essas são apenas duas boas amigas, ainda que sejam homossexuais.
Notadamente esse aparente quadro de tolerância não procede quando vemos mulheres serem violentadas para se reafirmarem como os agressores acham que elas deveriam ser. Nos países onde a homossexualidade é crime, as lésbicas são estupradas e em muitos casos, constroem-se muros para empurrá-los em cima de uma fileira de homossexuais.
Situações horrendas patrocinadas pelo Estado religioso islâmico refletem no Mundo inteiro como violações de direitos humanos. Apesar de tudo nem sempre as coisas são assim. No Egito é tradição os homens andarem pelas ruas de braços dados. Em Omã, além desse gesto, os homens se saúdam com quatro beijos no rosto e encostam o nariz de um no outro como forma de saudação respeitosa e acolhedora.
Retomando a questão da cultura religiosa, o deputado federal goiano João Campos (PSDB), líder da bancada evangélica na Câmara dos Deputados tem insistido na cura da homossexualidade. Em resposta a essa tentativa, escrevi uma carta de opinião no Jornal O Popular, intitulada Polêmica.

O projeto de decreto legislativo do deputado federal João Campos (PSDB), que é entendido como tentativa de “cura da homossexualidade”, não fere apenas o princípio constitucional básico da dignidade humana, garantida amplamente no artigo 5º da Carta Magna da nação, como também entra em contradição com a vida abundante requerida pelo Criador, revelada plenamente na afirmação de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. (Jo. 10,10).
Dado o fundamento bíblico da acolhida ao próximo, onde está o motivo para a patologização da homossexualidade, se essa é tão comum e normal quanto à heterossexualidade ou ainda a bissexualidade. De fato, no Antigo Testamento existia a pena de morte para o homossexual (Lv. 20,13), mas em Jesus, selo da nova e eterna aliança, toda lei se resumiu no amor ao próximo.
É inaceitável que no maior país cristão do mundo, ainda se mata seus semelhantes e irmãos de diferentes formas (físicas e psicológicas), fruto de uma insegurança sem precedentes acerca da sua sexualidade. Além de tudo, décadas de conquistas pelo respeito ao homossexual estão ameaçadas.
Nesse planeta que é um cisco cósmico na imensidão do Universo, existe espaço para todos, inclusive para as pessoas que queiram constituir suas famílias da maneira convencional. Em meio a tudo isso, o que mais importa é que “Deus não faz acepção de pessoas”. (Rm. 2,11).[1]
Em meados de 2005 escrevi uma carta ao mesmo jornal com sede em Goiânia-GO, informando o assassinato de um homossexual em Caldas Novas e pedindo providências. Toda situação de homofobia tem que se tornar pública, até que os responsáveis por criarem leis resolvam fazer alguma coisa. A partir daí as denúncias se tornarão formalmente legais.
O que pretende o deputado João Campos nesse caso é liberar médicos e psicólogos a diagnosticarem e a tratarem supostos casos de homossexualidade. A ideia remonta aos campos de concentração nazistas e outras experiências monstruosas realizadas por décadas pelo mundo afora.
No mês de abril de 2012 o mesmo deputado em questão, voltou a polemizar apoiando um projeto de lei que tira dos juízes o direito de decidir sobre questões que o Congresso Nacional por algum motivo abre mão de votar, como por exemplo, a união homoafetiva que coube aos ministros do Supremo Tribunal Federal decidir a favor.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em nome da moralidade cristã e dos bons costumes, passou a ser conhecido nacionalmente como o político mais homofóbico do Brasil. Com uma campanha sem limites, tem promovido indiretamente diversas reações violentas contra a Comunidade Gay. Já foi repreendido na Câmara dos Deputados, por outras afirmações que não se podem mais tolerar.
           De todos os políticos, o Deputado Federal Pastor Marco Feliciano (PSC – SP), que ironicamente no pleito 2013 é Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, tem se revelado como o mais ferrenho praticante da homofobia, em discursos inflamados e carregados de fundamentalismo religioso e absoluta contradição ao que se refere aos direitos da pessoa.
A Senadora Marta Suplicy (PT-SP), apresentou um Projeto de Lei na década de 1994 (que previa a criminalização a homofobia). Depois em 2006, reformulou o mesmo Projeto e antes de levar ao Plenário consultou a bancada evangélica e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Depois dessas consultas quase não se falou mais no assunto.
Foi incluído na pauta a não punição a discursos que ofendesse a Comunidade Homossexual. O temor é que líderes religiosos fossem punidos com a esperada nova lei. Se não existe nada prático e específico que proteja a vida LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis), a saída é buscar alternativas em brechas na lei, principalmente no artigo 5º da Constituição Federal.
Com as constantes “ameaças” de grupos religiosos fundamentalistas e puritanos tentando acabar com o Estado brasileiro laico e soberano, variados grupos de excluídos e marginalizados da sociedade, correm o risco de perder ainda mais o seu espaço, como pessoas comuns, normais e iguais a tantos outros. Os grupos até então dominantes, insistem em requerer para si o direito de serem aceitos como os únicos capazes de viver igualitariamente e dignamente no Mundo.
Se a religião cumprisse o seu papel fundamental que é ligar a criatura ao Criador, o ser humano a Deus, (desde que esse aceite passar por todo um processo sem ser discriminado), não haveria tantos sofrimentos desnecessários.
A partir do momento em que as religiões estabelecerem a doutrina da tolerância com o “diferente”, as relações humanas serão melhores, o Mundo será melhor. O que um líder religioso diz tem muita importância e influências não somente para os adeptos, mas em toda sociedade.
Situação semelhante é quando os legisladores, ao que tudo indica com medo de perder votos dos ditos grupos religiosos preferem ignorarem essa questão. Se a Constituição brasileira é considerada a mais democrática e avançada do Mundo, porque ainda o quadro de violência contra homossexuais continua sendo alarmante.
  



[1]Cf: O Popular, Ano 73 – Nº 21.248 / p.6 / 06 de março de 2012.


 Módulo 3 - Dados Estatísticos