PROJETO CIDADÃO - CONHECER E
PRECAVER
Todos os 14 Módulos do
Projeto serão desenvolvidos a partir da Obra: “Pedagogia da Acolhida – A Homoafetividade
Numa Proposta de Igualdade e Respeito – Jucimar Soares – Editora Virtual Books.
Alguns Textos Sofrerão Alterações ao do Conteúdo Original – Todos os Direitos
Autorais foram cedidos pelo autor em favor da USGD – União Sul Goiana da
Diversidade.
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Ficha Catalográfica
Soares, Jucimar
PEDAGOGIA DA ACOLHIDA – A HOMOAFETIVIDADE
NUMA PROPOSTA DE IGUALDADE E RESPEITO. Jucimar Soares. Pará de Minas, MG:
Editora Virtual Books, 2012. 14x20 cm. 60p. ISBN: 978-85-7953-608-3
1. Comportamento Humano,
2. Educação, 3. Sexualidade, 4. Religiosidade. Brasil. Título.
CDD - 370
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Motivações
Nessa obra resolvi substituir o termo “Introdução”
por “motivações”. Na vida somos conduzidos por elas, do jeito que queríamos ou
não, de certa forma traz uma lição de vida. Elas ocorrem nas mais diferentes
épocas e circunstâncias.
De 1992 a 2008 atuei ao lado
dos encarcerados, dependentes químicos, enfermos entre outros tipos de pessoas
excluídas da sociedade. Estando desde 2001 na Educação em Caldas Novas, tenho
realizado projetos e ações com alunos da Rede Pública, de onde surgiu a
necessidade elaborar esse material que será apenas um ensaio, dadas as circunstâncias
do intrigante e complexo mundo do comportamento humano.
Qualquer tentativa de querer
rotular a minha luta exclusivamente na causa gay, terá sido um sério equívoco,
uma vez que a minha história de vida vai para além dessa causa que requer coragem
e determinação.
Se porventura, esse material
provocar alguma polêmica é sinal de que produzirá bons frutos, porque o que
pude realizar pela graça de Deus ao longo desses anos não foi senão com duras
críticas, mas também com inúmeros reconhecimentos. Não tem preço ver uma pessoa
realizada e se realizar através do que podemos fazer pelo próximo.
O
presente material que poderá servir de subsídio para os principais seguimentos
da sociedade, não tem a menor intenção de afrontar os grupos conservadores.
Antes de tudo é um apelo para que as pessoas revejam suas atitudes ao que se
refere à homoafetividade. É um conjunto de reflexões.
Não
se trata de um ensaio científico, mas todo conteúdo foi elaborado a partir da
própria realidade, testemunhada em família, igreja, escola, nos diferentes
grupos sociais, além de dados estatísticos e históricos, porque quando se trata
de discriminação por orientação sexual, não há classe e nem pessoa que esteja
isenta de ser excluída.
O
autor.
Considerações
Gerais
Módulo 1 - ACOLHIDA
Numa
forma mais abrangente, significa aceitar, incluir, compreender e entre outras
virtudes, respeitar. A acolhida deve ser uma atitude espontânea e consciente.
Acolher por pena ou porque uma norma ou lei exige é forçar um ato que nem sempre
corresponde a um sentimento verdadeiro de compaixão.
O
mestre Jesus foi o que mais ensinou, não apenas com palavras, mas com atitudes,
revelando o verdadeiro significado do que é realmente acolher. “Viu e teve
compaixão”. (Mc. 6,34).
Com
essa atitude o Filho de Deus aceitou, incluiu, compreendeu e respeitou todas as
classes de pessoas, principalmente as excluídas da sociedade da época. Amou
incondicionalmente. Quis que todos fossem iguais. Não cobrou nada de ninguém
pelo bem que fez, apenas pediu misericórdia e não sacrifício (Mt. 9,13).
A
maioria dos que reivindicam o direito de falar em nome do Cristo, não são
capazes de fazer o que ele fez. Perdem-se em questões que nada tem haver com o
que o jovem de Nazaré pediu que fizessem. Amar, simplesmente isso. E ainda:
“não faça ao outro o que não gostaria que fizesse a você”. (Mt. 7,12).
Graças
ao tipo de cultura religiosa puritana e fundamentalista (salvo as honrosas
exceções), dezenas de homossexuais são mortos todos os anos no Brasil. O
brasileiro tem se revelado cada vez mais violento contra a comunidade
homossexual. Isso acontece justamente no maior país cristão do mundo. Como
agiria Jesus em meu lugar?
Lamentavelmente,
a violência praticada contra homossexuais é ensinada sutilmente nos púlpitos, quando
a interpretação literal da Bíblia promove a intolerância. Na prática é bem
acolhido quem não apresenta nenhum comportamento estereotipado (trejeitos),
efeminado para o homem e masculinizado para a mulher. Nesse último caso, a
situação normalmente transcorre sem maiores danos.
Enquanto muitos jovens são expulsos
implicitamente ou explicitamente de suas igrejas, onde dedicaram anos de sua
vida em prol do que é conhecido como “obra de Deus”, através de rejeições,
outros são submetidos a sessões de “cura”. Não são raros os casos em que
praticam a expulsão de um demônio, mais especificamente o “Exu do
homossexualismo”. Tudo feito em nome do Pai e Mãe de amor e ternura, que ama pessoas
na condição de filhos e filhas.
Como a liberdade religiosa no Brasil
é constitucional, parece não haver nenhuma punição para as atitudes criminosas,
praticadas por pessoas sem entendimento adequado sobre sexualidade, afetividade
e homoafetividade.
O
conhecimento é bem mais abrangente que ter uma esposa ou esposo do lado com
filhos, se reafirmando para a comunidade de fiéis como uma família perfeita.
Vai para além do conhecimento bíblico. É resultante da humildade, que alimenta a castidade que jamais pode ser confundida com celibato. Ser casto significa abrir mão dos caprichos pessoais, das manias, do materialismo, enfim praticar uma renúncia pessoal periódica em favor do bem comum. O celibatário se abstém da relação sexual por opção ou "imposição".
Com medo, por pressão da família e
amigos ou por acreditarem que ainda serão ou foram “curados”, inúmeros homossexuais
se casaram ou se unirão em matrimônio com o sexo oposto orientados pelo seu líder
religioso.
Com
base num comportamento supostamente heterossexual, os que se submetem a essa
situação angustiante serão predominantemente perseguidores de outros homossexuais,
(com raras exceções). Aos que aceitam levar resignadamente esse tipo de vida,
não estarão livres de constantes crises existenciais e angústias sem
precedentes.
Outros
ainda levarão uma vida dupla. Ora em casa com a família, ora em locais clandestinos
se relacionando com pessoas do mesmo sexo. Vez e outra se verificam, situações
em que depois de mais de vinte ou trinta anos de casados uma das partes resolve
assumir a sua homossexualidade.
É
nessa circunstância da vida que se diz erroneamente que tal pessoa virou gay e
no caso anterior deixou de ser gay. Não há nenhuma constatação científica que
comprove esse absurdo. A certa altura da vida a pessoa se estabelece tal e qual
nasceu para ser. A questão é se ela assume a sua condição, o seu estado permanente de ser, o contínuo, a homossexualidade que mais cedo ou tarde se manifestará explicitamente, tendo a pessoa o direito de assumir ou não.
De
qualquer forma, essa gama de situações conturbadas geram diversas consequências
traumáticas que marcarão toda uma vida. Tudo isso acontece pela falta da
acolhida. Se ela acontecesse na sua inteireza, inúmeras pessoas estariam livres
de passar por tantos sofrimentos.
Quem
não acolhe exclui e quem exclui promove diferentes tipos de violências. A
acolhida é fruto da misericórdia e todo acolhimento é uma atitude inclusiva.
Incluir alguém em nossa vida, não significa necessariamente levar para dentro
de casa, andar de mãos dadas, morar onde a pessoa se encontra, mas valorizar,
fazê-la se sentir gente, parte integrante de uma comunidade. Cuidar de suas
feridas físicas ou emocionais. É o que Jesus fez.
Um
homossexual, por exemplo, poderá participar ativamente da vida de
heterossexuais no trabalho, na escola, no lazer sem que seja discriminado e
igualmente no caso oposto. A questão aqui é humana integralmente.
O
que não pode acontecer em nenhuma hipótese é as partes quererem forçar a adesão
de uma orientação sexual em detrimento da outra. Que o homossexual seja
heterossexual ou até mesmo ao contrário. As pessoas tem que se sentir livres para
serem o que realmente são, mesmo que estejam em ambientes diferentes daqueles
em que elas estão acostumadas.
Quem
tem consciência da importância de agir de forma respeitosa, estará agindo de
maneira igualitária com seus semelhantes. Vivenciar a Pedagogia da Acolhida é
justamente saber conviver tranquilamente com a sua própria sexualidade e
afetividade, sem medo de ser o que é e não ter receio do outro, só pelo fato de
ser diferente do que a sociedade estabelece como padrão aceito e correto, a
heterossexualidade. Ser igual é saber respeitar a diversidade alheia.
Não Perca o Módulo 2: Homofobia